Se o método de trabalho vem mudando ao longo dos anos, o tipo de liderança também precisa mudar. E isso ficou mais latente em meio à pandemia, em que é preciso enfrentar os desafios da gestão nesse cenário ainda incerto e caótico.
A professora Izabela Mioto, da Fundação Dom Cabral, defende uma liderança empresarial de impacto, aquela que não considera apenas resultados e também as pessoas e o contexto. Mas, quais seriam as skills necessárias para uma liderança corporativa nos dias de hoje?
São pelo menos 6 para uma gestão empresarial preparada para o presente e para o futuro — que deve ser de pessoas cada vez menos resilientes. Confira a entrevista com Izabela sobre as habilidades para liderar.
O que significa liderança de impacto?
Isabela Mioto (IM): É a liderança que precisamos agora no século 21. É uma liderança mais humanizada, que considera não somente os resultados, mas todas as pessoas e o contexto que compõem esses resultados. Gosto de dizer que liderar é tomar decisão o tempo todo e que essa decisão precisa encontrar o máximo de equilíbrio possível entre o que é bom para si (líder), para os outros e para o contexto.
E o motor dessa liderança é o diálogo, porque com diálogo você consegue conectar as pessoas aos propósitos do “porque elas estão fazendo” ao “que elas estão fazendo”. Quando temos a perspectiva de um grande propósito com o diálogo como motor, temos uma liderança sustentável.
Não é uma liderança que pensa só no curto e médio prazo, mas que pensa numa perspectiva de longo prazo, que não opera no “egossistema”, mas entende as necessidades dos ecossistemas em que está inserida.
Quais benefícios esse tipo de liderança traz às empresas?
IM: A sustentabilidade. Quando operamos de maneira coercitiva, não engajamos as pessoas como deveríamos. Na chamada motivação 3.0, que é a motivação do propósito, da autonomia e das pessoas buscando excelência o tempo todo, os resultados se sustentam e ainda é possível ir além por trazer a possibilidade da cocriação e da inovação.
A liderança humanizada e da conexão traz benefícios às organizações por engajar as pessoas no propósito organizacional, melhorar os resultados e sustentar esses resultados.
Existem estilos diferentes de liderança. Quais são os mais comuns na atualidade e quais verdadeiramente trazem impactos positivos nos liderados?
IM: Há autores que dizem que nada é mais desigual que tratamento igual a pessoas desiguais. Essa teoria tem como premissa que os líderes façam um diagnóstico em relação ao quanto de competência e compromisso os liderados têm para determinadas tarefas para, então, escolher o estilo de liderança adequado.
Acredito que não haja um estilo ideal de liderança, mas sou adepta da liderança humanizada, aquela que opera a partir da transparência, da autenticidade, da verdade e com respeito às pessoas.
O estilo de liderança que mais se adequa à nova realidade é aquele que cria ambientes emocionalmente seguros, onde é possível criar, errar e aprender com o erro. Não é aquele que julga, não é a liderança coercitiva, que faz com que as pessoas se tornem muito mais obedecedoras que criativas.
E quais são as principais habilidades para liderar? O que o líder precisa ter ou desenvolver para exercer esse tipo de liderança?
IM: A principal skill (ou a busca por) é o autoconhecimento. Há uma frase de Otto Scharmer que diz que “a qualidade de uma intervenção depende do estado interno do interventor ou interveniente”. Portanto, se eu tenho um líder que não se conhece muito bem, provavelmente ele vai operar a partir do “egossistema” e não do ecossistema e dos grandes propósitos que ele tem que conduzir. Ele vai operar para suprir as necessidades do ego. O autoconhecimento é extremamente importante para essa liderança mais acolhedora, mais humanizada e mais inclusiva.
O segundo ponto é a empatia, que não é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Pela perspectiva de Mary Gordon, a empatia tem a ver com a tomada de perspectiva, que é acolher e compreender como o outro pensa. Quando tomamos a perspectiva conectiva, acionamos o lado emocional e nos conduzimos à ética do cuidado que, consequentemente, leva à reciprocidade e à confiança.
O terceiro ponto é a criatividade, tão necessária nesse mundo de complexidade e incerteza. Precisamos cada vez mais olhar para situações e tentar extrair o melhor delas. Também acho importante a resiliência em passar pelas adversidades sem perder o foco, o pensamento crítico construtivo para questionar e buscar extrair o melhor das respostas e a comunicação por meio do diálogo. São as skills mais importantes para essa a liderança humanizada.
Tanto líderes quanto liderados passaram a vivenciar situações de home office, isolamento, cuidado com a saúde mental durante isolamento, novas formas de estabelecer e cumprir metas. O que mudou na forma de liderar com o que temos vivido durante a pandemia?
IM: Percebemos que os líderes precisaram ressignificar a forma com que vinham fazendo liderança. Não só porque passaram a ter um gerenciamento mais a distância, com operações a partir da confiança, mas também por ter que olhar as pessoas e entender que elas têm emoções.
A pandemia intensificou a necessidade do diálogo, de acolhimento dos estados emocionais. Em uma pesquisa realizada pela Universidade de Vrije, em Bruxelas, a professora Elke Van Hoof diz que demonstramos “mais resiliência do que imaginávamos”, mas isso está em declínio e o absenteísmo é esperado no longo prazo, embora haja esperança de contê-lo.
Para se ter ideia, a mesma pesquisa mostra que, antes da pandemia, em 2019, 1 em cada 3 pessoas estava indo bem, e agora, em março de 2021, apenas 1 em cada 5 pessoas ainda pode ir bem.
Ou seja, as pessoas estão cansadas e agora é o momento das organizações cuidarem dos seus líderes, pois são eles que têm impacto de gerar os resultados, de manter a equipe engajada e de acolher o sentimento dos liderados. É preciso haver uma reconexão para que eles não entrem em estado de exaustão.
Como o programa Liderança de Impacto vem para agregar conhecimento nesse sentido?
IM: O Liderança de Impacto é um convite para uma liderança mais autêntica, para uma abertura generalizada às possibilidades que estão emergindo, para extrair o melhor de cada líder sem colocá-lo dentro de algum tipo de molde.
O programa foi todo pensado para contribuir na busca pelo desenvolvimento da inteligência emocional, algo crucial nos dias de hoje. Ele pode ajudar os líderes a se conectarem com o que é importante para si, a entenderem sobre a importância dos momentos de pausa, de conversar mais com suas equipes e de se ater à empatia: a favor de si, dos outros e do contexto.
Se você quer que sua empresa e seus líderes estejam preparados, inscreva-se no curso Liderança de Impacto!