A tecnologia está presente em praticamente tudo, isso é um fato. É surpreendente pensar que em 2019 ainda falamos dela com ar de apresentação. Pensar em um processo do mundo atual que não seja intermediado pela tecnologia é quase impossível. Nas indústrias, é indispensável que essa realidade seja aceita para garantir o bom andamento da vida das empresas. Antes, falava-se em um período por vir; hoje, fala-se em atualizações quase constantes. Independente se sua empresa é voltada ou não para a tecnologia, ela é o caminho por qual a produção caminha para o sucesso.
Para entender mais sobre o tema, a PKT conversou com o professor Paulo Almeida, da Fundação Dom Cabral (FDC), sobre a importância da transformação digital para as organizações e como elas podem se desenvolver nesse universo atual. Acompanhe.
PKT: De acordo com os estudos da McKinsey, a expectativa de vida das empresas hoje é bem menor do que era no passado. Em 1955, era de 60 anos; hoje, é inferior a 15 anos. O que mudou?
Professor: O processo de transformação interna hoje, nas empresas, está muito acelerado. Ele é acelerado mas, paradoxalmente, essa disrupção é silenciosa. Muitas vezes, as empresas em particular e as organizações em geral, não estão tão atentas ao mercado, às mudanças nos processos em outras empresas e às mudanças nos competidores. Portanto, essa disrupção é silenciosa e acaba afetando as empresas. Quando ela se dá conta que o seu negócio se tornou obsoleto, muitas vezes, já é tarde. Como a transformação no exterior da empresa hoje é consideravelmente acelerada, a consequência é a mortalidade.
PKT: Pesquisas da McKinsey mostram que 70% das transformações digitais falham de maneira recorrente. A que você atribui isso?
Professor: Eu atribuiria a três fatores. O primeiro tem mais a ver com a sociedade e está relacionado à falta das lideranças dessas empresas terem uma visão mais sistêmica, de entenderem e responderem com mais agilidade a essas transformações. Atribuiria, também, a uma causa organizacional que se conecta com a primeira, que nesse caso é a pouca capacidade dessas estruturas de se adaptarem rapidamente por ainda estarem funcionando sob um modelo de organização com linhas de lideranças e com processos internos que não se adéquam suficientemente a essas transformações em curso. E também a uma causa mais ligada aos indivíduos, que tem a ver com o insuficiente conhecimento das próprias lideranças, uma falta de atenção — que é necessária no perfil desejável de uma liderança para responder adequadamente, de forma estruturada e rápida aos desafios da mudança do contexto atual.
PKT: O que uma empresa precisa fazer para sobreviver nesse novo cenário?
Professor: Em primeiro lugar, vai ter que se convencer, que acreditar e se adaptar. E essa adaptação pressupõe da liderança o que nós aqui da Fundação Dom Cabral chamamos de liderança organizacional adaptativa. Esse modelo não é mais do líder tradicional, focado na ideia de comando de controle. Não; todo o perfil da liderança vai permitir que esses líderes criem espaço de liderança na própria organização, que ajudem as pessoas a se conectarem, a olharem para dentro, mas também para fora, e a terem uma maior facilidade para inovar, para errar e para se estruturarem de uma forma suficientemente ágil a essas transformações que estão em curso. Isso é válido tanto para uma grande organização, como para uma pequena empresa.
Para exemplificar, uma empresa do ramo da indústria automotiva precisa expandir seu olhar para além do seu segmento. Assim, se houver um produtor de bateria para celular que esteja evoluindo e avançando na transformação digital, ele merece sim ser observado, porque é a tecnologia que importa aqui e não tanto o setor. O diferencial, portanto, é a entender que o que vale é a capacidade de inovação de empresas que não necessariamente competem com a sua.
No entanto, tão importante quanto olhar além da sua própria estratégia organizacional, é decisivo criar efetivamente uma cultura digital interna orientada para a transformação. E isso independente do porte da companhia. Essa cultura pressupõe explorar novas fronteiras, quebrar paradigmas, ter a capacidade de errar e aprender, e olhar para o mundo atual de uma forma completamente diferente.
PKT: Qual a vantagem competitiva das empresas que conseguem completar a transformação?
Professor: Temos vários diferenciais. Ela vai conseguir inovar, se adaptar e se preparar para os desafios e minimizar os riscos externos que poderiam fazer dela uma instituição irrelevante para o seu mercado. Ou seja, esse modelo aumenta a capacidade de absorção e transformação da estrutura àquilo que são os desafios que se vão colocar pra ela permanentemente.
Sejam desafios de organização interna, como os processos, ou externa, como a entrada de novos competidores no mercado, que venham a desequilibrar o que era até aí a forma de funcionamento naquele setor do mercado.
PKT: Muitas companhias entendem que precisam mudar, mas sofrem para promover essa transformação. O que um gestor precisa fazer para acelerar esse processo?
Professor: Aqui na FDC nós utilizamos um roteiro que chamamos de bússola. Em resumo, um gestor deve estruturar o desafio digital, mobilizar a organização, focar o investimento e sustentar a transformação. Os desafios dessa liderança digital são: influenciar os diferentes setores da empresa para aderir à mudança, incentivar e proteger a cultura digital, mobilizar e engajar as pessoas para novos comportamentos, gerir e sustentar a mudança monitorando o processo, e, por fim, mobilizar e integrar as diferenças de negócio na transformação digital dessa perspectiva, colocando as pessoas a colaborarem para isso.
PKT: Como você avalia o sucesso das empresas brasileiras que procuram a transformação digital?
Professor: No Brasil, nos últimos três ou quatro anos, houve empresa que, quando pensava em transformação digital, contratava alguém da área de TI para conduzir essa transição, acreditando que a mudança de um membro na organização traria a transformação esperada. Grande parte dessas experiências resultou em insucesso. Uma nova contratação funciona como um catalisador desse processo apenas se a alta liderança estiver comprometida com o sucesso. E se a cultura for criada e propagada por multiplicadores internos.
PKT: Quais são as características que um gestor precisa ter para liderar esse tipo de movimento?
Professor: O perfil de competência de liderança que é desejável nessa revolução 4.0 e nesse processo de transformação digital em curso passa por um perfil de competências que estimulem a criatividade das pessoas, estimulem o pensamento empreendedor, a capacidade de solução dos problemas mais complexos, a capacidade de resolução de conflitos que vão emergir na própria organização e de tomada de decisão.
Mas, também, remete à capacidade analítica de lidar com dados complexos e muitas vezes contraditórios, o que requer capacidade de pesquisa e de conexão que as lideranças das organizações, nesse contexto de transformação digital, deverão ter.
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De fato, a transformação digital é indispensável para as empresas. Os líderes possuem um papel significativo nessa transição e a capacitação desses profissionais é essencial para o processo. Conheça os programas da FDC que nós da PKT, associada da Fundação, trazemos para as regiões de Campinas e Sorocaba. Conte conosco para alavancar sua carreira.