
Dificilmente uma crise é um incidente isolado. Também não costuma ser algo passageiro: ela começa, vai se desdobrando até atingir o ápice e, enquanto isso, vai impactando a vida de pessoas e organizações. E esse impacto não é pontual, vai tendo seus efeitos sentidos por um bom tempo. Por isso, uma coisa é certa: precisamos nos preparar para enfrenta-la da melhor maneira possível.
A crise atual que estamos vivenciando é prova disso. Sem precedentes na história, esta pandemia do COVID-19 mostra o quanto estamos suscetíveis não apenas economicamente, mas socialmente. Para os empresários que buscam a sobrevivência de seus negócios, os desafios são diversos e este é o momento de se organizarem para combate-la com sabedoria, estratégia e foco.
Para trazer alguns insights sobre como enfrentar este momento incerto, o escritório Finocchio & Ustra (FIUS), com o apoio da PKT Desenvolvimento Empresarial, organizou uma live sobre Gestão de Crise. Além do sócio do escritório, José Finocchio Jr, o evento contou com a participação de Antonio Pádua, Presidente da PKT Desenvolvimento Empresarial, e Leonardo Coelho, da Alvarez Marsal.
Acompanhe alguns dos principais pontos abordados.
Antonio Pádua
Presidente da PKT Desenvolvimento Empresarial, Associada a Fundação Dom Cabral
Para Pádua, é preciso entender a crise para encontrar nela formas de contorna-la. Em um cenário totalmente novo como o que estamos vivendo, as empresas precisam se adaptar às novas exigências. “Estamos aprendendo uma nova forma de trabalhar. Nunca pensamos em uma situação como esta, em que trabalhar remotamente seria a única alternativa para diversas empresas. O que tenho visto são reuniões cada vez mais produtivas, assertivas e efetivas”, conta.
Ele também destaca que diversas empresas que até então estavam postergando seus investimentos em tecnologia e transformação digital agora estão tendo que se adaptar, e com muito mais agilidade. E isso não vale apenas no ambiente tecnológico. “A questão do tempo entre planejar e executar mudou completamente nessa crise. Se antes se planejava muito antes de colocar em prática, agora está muito mais dinâmico e este é o guideline que teremos daqui pra frente”, ressalta.
Pádua destaca também o comportamento da alta gerência das empresas que pode e deve aproveitar o momento para mostrar sua qualidade, trabalho árduo e com foco em performance. “Tenho percebido uma energia impressionante desses profissionais nas empresas clientes da PKT”, conta.
Para Pádua, apesar de não termos o timing de quando a crise se encerra, sabemos que ela vai passar e, por isso, as companhias precisam se preparar para saírem mais fortes dela, ainda mais porque o pós-crise nunca é simples. “A engrenagem de consumo vai demorar a se normalizar. Quem usar esse momento para se preparar em todos aspectos, inclusive financeiro, terá uma janela de oportunidades como nunca antes”, afirma Pádua.
O profissional, que atua com a implantação de Comitê de Gestão de Crise da FDC em empresas, explica que o objetivo do Comitê é ter uma equipe multidisciplinar trabalhando em ações de curto (uma semana) e médio prazo (dois meses) para reduzir danos e monitorar resultados, sempre focando no alinhamento organizacional.
Roteiro para gestão de crise
Para colocar isso em prática, é preciso contar com um roteiro que traga:
1) Papeis e responsabilidades das pessoas, que devem ser cumpridos à risca;
2) Boas práticas de Governança, com mapeamento dos stakeholders, fornecedores, sociedade e governo (para entender o que está acontecendo não apenas dentro da companhia, mas no entorno da empresa);
3) Plano de Comunicação transparente para que as informações trocadas com todos os players seja clara e correta.
“Todo mundo está aprendendo muito com tudo isso. Montamos cenários, criamos hipóteses, indagamos, e isso deve servir de base para nossa estratégia e para criarmos um plano de ação executável a curto prazo. É a hora de aproveitar para se reinventar”, finaliza.
Leonardo Coelho
Alvarez Marsal, atua com reestruturação de empresas de diversos portes e segmentos
Em sua explanação, ele lembrou das últimas crises que enfrentamos em 1997, 1998, 2001 e 2008, todas elas com uma razão econômica por trás, em especial a última, nascida e tratada no sistema financeiro. A crise atual, no entanto, nunca antes foi vivida na história, em especial por seu caráter de isolamento social. E isso gera muitas incertezas. Para Leonardo, é preciso criar cenários, ou seja, rol de situações que devemos projetar no tempo para ancorar nossas decisões no curto prazo.
Na Alvarez Marsal, eles projetaram dois cenários:
1) Isolamento vertical: todos retomando suas atividades e voltando ao trabalho em duas semanas
2) Isolamento horizontal: as atividades sendo retomadas em dois ou três meses
Independentemente de qual deles se concretizar, Leonardo é categórico ao afirmar que as decisões tomadas a partir daí não são muito distantes, porque muita coisa mudou com o COVID-19 e as empresas e mercado não estarão com o mesmo vigor de antes da crise. Assim, o pacote de medidas para esse momento é similar nos dois cenários, mas são necessárias adaptações para cada um deles.
Blocos de ação
Apesar de não acreditar que exista uma receita para esse momento de crise que estamos vivenciando, Leonardo sugere três blocos de ações, dois muito voltados pra dentro da empresa e um para fora, já com um viés otimista de final de crise.
Bloco 1) Proteção do caixa: este é o momento de privilegiar o caixa da empresa e ele aconselha a segurar o máximo de capital possível, gastando estritamente o necessário;
Bloco 2) Medidas de cunho operacional: realizar uma otimização do que existe no balanço da empresa e também nos seus processos, para possíveis refinamentos;
Bloco 3) Oportunidades: crises são também momentos de oportunidades. É fato que grande partes dos players não vão sair do outro lado da crise, mas quem fizer a lição de casa com rapidez, focando em ações para sobreviver à crise, poderá aproveitar as oportunidades que surgem no prós-crise.
De acordo com o profissional, essa crise tem um tempo determinado para se encerrar, já que não se trata de sistema econômico. Assim, há um choque de demanda brutal, mas em algum momento ela acaba e quem tiver dinheiro em caixa poderá ter condições para rever seus negócios, expandi-los, focar em novas áreas de atuação, produtos novos, com destaque para o e-commerce, que vem ganhando ainda mais relevância nesse momento de isolamento.
José Finocchio Jr – FIUS
Finocchio tratou dos aspectos jurídicos práticos, trabalhista, tributário e contratual durante a gestão de crise. Ele abriu sua explanação apresentando as estratégias mais discutidas nos comitês de crise dos quais ele faz parte, em especial aquelas que abordam a Medida Provisória (MP) 927, que trata de medidas específicas referentes ao regime de trabalho durante a COVID-19.
Segundo Finocchio, as 5 mais discutidas são:
1) Home Office
2) Férias Coletivas e Banco de Horas
3) Antecipação de Férias individuais
4) Alteração de turno de trabalho
5) Redução de jornada de trabalho
Legislação Anticrise
O advogado também listou os principais pontos da Legislação Anticrise:
Simples nacional: Diferimento do prazo de vencimento: Referente às apurações de março, abril e maio de 2020, com vencimento em abril, maio e junho de 2020 (apenas parcela federal).
Imposto de importação & IPI: Alíquota zero: Redução temporária, até 30 de setembro de 2020, para os produtos que podem auxiliar na contenção da disseminação do coronavírus, bem como adoção de tratamento prioritário para a liberação dessas mercadorias antes mesmo da inspeção aduaneira.
CND Federal: Prorrogação por 90 dias: Das Certidões Negativas e Positivas com Efeitos de Negativa de Débitos relativos a Créditos Tributários Federais e à Dívida Ativa da União (CND e CPEND) válidas na data da publicação da Portaria Conjunta (24/03/20).
PGE: Suspensão de atos de protestos: Suspensos por 90 dias os atos destinados a levar a protesto débitos inscritos na dívida ativa.
RFB & PGFN: Suspensão de atos processuais e procedimentos: Tais como, aviso de cobrança, exclusão de parcelamento, emissão de despacho decisório em PER/DCOMP e medidas de protesto. Até 29 de maio de 2020 o atendimento presencial nas unidades da RFB será restrito a alguns serviços.
FGTS: Suspensão da Exigibilidade: Do recolhimento do FGTS pelos empregadores, referente às competências de março, abril e maio de 2020, com vencimento em abril, maio e junho de 2020 e possibilidade de parcelamento em até seis parcelas mensais, a partir de julho de 2020, sem a incidência de atualização, multa e encargos, para informações declarada até 20 de junho de 2020.
Sistema “S”: Redução 50% das Contribuições: A medida foi apenas anunciada, mas ainda não normatizada.
Administração de caixa
Entre as possíveis estratégias para administração de caixa durante a pandemia do COVID-19, o escritório listou quatro principais caminhos:
1) Portaria MF nº 12/2012 – Prevê a prorrogação do prazo para pagamento de tributos federais em caso de decretação de calamidade pública estadual, porém condicionada à publicação de uma Portaria RFB, inclusive com a definição dos municípios (art. 3º).
2) Parcelamento dos débitos – Parcelamento Federal Simplificado e Ordinário no âmbito da RFB e previdenciários em até 60 prestações mensais, cujo valor consolidado não ultrapasse R$ 5 milhões. – ICMS: Se antes do vencimento, incidência de multa de apenas 2%. É possível coexistir até 7 parcelamentos ordinários de débitos não inscritos.
3) Levantamento dos créditos – Importância em revisar e analisar a possibilidade de apropriação de créditos PIS/Cofins e ICMS, inclusive aqueles com discussões controversas.
4) Aproveitamento de liminares – Cenário a ser adotado pelos contribuintes que possuam liminares ou sentenças em Mandado de Segurança autorizativas para compensação do crédito tributário em discussão e que optaram por aguardar o trânsito em julgado.
Já os assuntos que permearam as discussões na esfera contratual durante a crise, segundo Finocchio, são:
1) Notificações de suspensão de pagamento por caso fortuito
2) Cancelamento do pagamento X Suspensão do pagamento
3) Contratos de longo prazo e execução continuada
4) Desequilíbrio contratual
PKT como protagonista de iniciativas
Pádua reforça que o tema discutido é muito delicado e requer de todos, independente da posição que ocupem, muita serenidade, assertividade e agilidade na tomada de decisão. A preocupação é geral e a ideia é acompanhar seriamente todas as notícias e alterações propostas pelo governo para serem debatidas nos próximos encontros.
“Utilizando a expertise da nossa equipe, vamos compartilhar com você cenários, recomendações, insights e muito mais para que juntos possamos passar por esse momento mais fortes”, conclui.