
O mundo corporativo segue caminhando a passos largos rumo à humanização e a mudanças transformadoras – de forma cada vez mais acelerada. Aquela liderança em que “um falava e os outros escutavam” já não funciona mais. As gerações atuais não aceitam o controle permanente e o comando sem explicações. Mais que assistir e esperar que essas mudanças cheguem ao seu ambiente de trabalho, é preciso ser vetor: trabalhar proativamente para ter, cada dia mais, uma liderança de impacto.
Como? É isso o que nos mostra Izabela Mioto, mestre em Psicologia, pós-graduada em Desenvolvimento do Potencial Humano e Administração de RH e especialista no assunto. Em conversa para o nosso blog, ela compartilhou quais são os desafios atuais do mercado corporativo e os benefícios que uma liderança de impacto pode trazer para as empresas, os liderados e o próprio líder. Ela também explica as diferenças entre este tipo de liderança e os modelos disseminados até pouco tempo atrás e indica alguns caminhos para chegar lá. Confira!
——————————–
Pekatê – Quais você acredita que sejam, hoje, as principais dificuldades das empresas quando o assunto é liderança?
Iza Mioto – Nós tivemos uma mudança muito grande nesse contexto, tanto é que as maiores dores das empresas estão hoje realmente atreladas à liderança. É verdade que, antigamente, quem adotava a dinâmica de “comando e controle”, mais autocrática e coesiva, tinha resultados. Mas hoje temos novas gerações que se conectam muito mais pelo propósito e precisam mais de significados.
Entendo que, assim como cita Zygmunt Bauman, “o mundo que está aí não nos serve mais e precisamos inventar novas maneiras de viver”. Na liderança isso também tem acontecido.
Atualmente, muito se fala sobre liderança humanizada, essa nova forma de liderar das quais muitas empresas estão correndo atrás para formar seus líderes. Essa é uma dor atual e, felizmente, as organizações têm se dado conta disso. Uma segunda questão se relaciona com a saúde mental e emocional das equipes. Vemos altos índices de depressão, burnout, síndrome do pânico, entre outras doenças, e boa parte das lideranças não foi desenvolvida para lidar com isso e para compreender quando isso, de alguma forma, acontece.
Outro ponto a se considerar é como lidar com tantas demandas e como fazer a gestão delas sem se perder. Afinal, nesse trem-bala que a vida nos coloca, com alto índice de coisas a se fazer em tão pouco tempo hábil, é essencial entender como ter foco e saber planejar as atividades de uma maneira que as pessoas e as equipes consigam estar bem-estruturadas sem gerar uma ansiedade com o número de afazeres não entregáveis.
E, por fim, como lidar com as pessoas levando em consideração a diversidade que elas trazem. Como diz Paul Hersey e Ken Blanchard, na Liderança Estacional, “nada é mais desigual do que tratamento igual a pessoas desiguais”. Então, o líder precisa entender as particularidades e buscar essa conexão com a singularidade, sabendo que as pessoas são diferentes e que um mesmo processo que funciona para um liderado, pode não funcionar para o outro.
Pekatê – Agora pensando no liderado, quais seriam as maiores dificuldades hoje das pessoas que estão no mercado corporativo?
Iza Mioto – Para mim, certamente tem a ver com a saúde emocional. Com a pandemia e todos os seus desdobramentos, muitas pessoas sentiram medo de perder seus empregos, mudaram totalmente suas rotinas e muitas delas adoeceram emocionalmente.
Além disso, muitos não sabem como lidar com tudo isso e se questionam: “será que eu converso sobre ou tento disfarçar?”. Elas se colocam em uma rotina insana que, às vezes, somente piora as formas de lidar com as situações.
Acho que ainda temos muito a caminhar nessa questão, em gerar saúde emocional por meio da segurança psicológica. Grande parte dos profissionais não encontra a abertura que precisa para conversar um pouco mais sobre si. Isso levando em consideração a integralidade, que é a capacidade de poder ser autêntico e não precisar usar máscaras para ir ao trabalho.
Pekatê – Você vê uma diferença tão evidente de uma liderança de impacto de hoje com relação a um passado recente, considerando principalmente essas questões como pandemia, home office, cenário econômico, foco na saúde mental…
Iza Mioto – Sim, a diferença é de uma liderança que está aberta ao novo e que lidera a partir do futuro que emerge, entendendo que os pressupostos que funcionaram para trazê-los até aqui não funcionarão mais para levá-los ao mais alto potencial possível.
É a liderança que usa as lentes da curiosidade, procurando aprender com as mudanças e se reinventar o tempo todo. No caso do home office, por exemplo, a liderança precisa entender que é necessário abrir espaço e analisar como as coisas vão acontecer. Muitas vezes não se tem certeza, mas é preciso caminhar na incerteza e lidar bem com a complexidade, ou seja, com o conjunto de fatores que influenciam em determinado fenômeno. Às vezes, é preciso dar saltos no escuro para alcançar esse mais alto potencial.
Pekatê – Para você, o que seria uma liderança de impacto nos dias de hoje?
Iza Mioto – Uma liderança de impacto é aquela que o líder tem consciência de si. Ele compreende a importância do autoconhecimento para que possa gerar uma gestão coerente em que a exemplaridade se faz presente, porque o que engaja é a coerência.
É um líder que se conduz em uma relação com as pessoas de maneira transparente, verdadeira e respeitosa. Isto é, com uma postura assertiva para que consiga trazer resultados. Mas a maneira como ele consegue trazer esses resultados também é importante para gerar sustentabilidade.
É uma liderança na qual o diálogo se faz presente, mesmo não havendo concordância em relação ao que dizem e pensam seus liderados. Há espaços para que se compreendam os porquês. Neles, o líder se conecta em uma troca de ideias que facilita a tomada de perspectiva do outro de maneira eticamente cuidadosa.
A liderança de impacto é aquela que tem a clareza dos propósitos e que não se perde nas emoções. É a liderança que, ao tomar decisões, procura ser o mais consciente possível e conectada aos propósitos, buscando o que é bom para si, para os outros e para o contexto. O norte dessa liderança é o propósito; o motor, o diálogo.
Pekatê – Quais são os benefícios de uma liderança de impacto às empresas?
Iza Mioto – Ela promove mais engajamento porque gera conexões com pessoas e propósitos.
Há uma pesquisa liderada por Daniel Goleman, em 2010, que mostra que, de todos os fatores que afetam o resultado financeiro de uma empresa, o principal deles é o humor do líder por meio de um mecanismo chamado contágio de humor.
Por mais que a pesquisa não seja recente, indica que o líder precisa encontrar o máximo de equilíbrio possível no seu ego-sistema para gerar equilíbrio no ecossistema. Lideranças equilibradas promovem engajamento, geram resultados e sustentam resultados. Então, o principal benefício para as empresas está em ambientes emocionalmente seguros e em lideranças que se conduzem com a ética do cuidado para gerar resultados que se sustentem.
Pekatê – Quais são as habilidades que você considera essenciais para uma liderança nos dias de hoje?
Iza Mioto – Absolutamente tudo começa no autoconhecimento. É um estímulo para que se possa entender o impacto das nossas atitudes naquilo que desejamos das outras pessoas. É o que nos ajuda a compreender sobre a nossa motivação para conduzir as nossas atitudes nessa direção. Facilita o autocontrole e que sejamos mais empáticos.
O autoconhecimento é uma das habilidades da inteligência emocional extremamente importante para a liderança. A empatia e a colaboração também são fundamentais para gerar ambientes emocionalmente seguros.
Como conduzir para uma liderança de impacto
Izabela Mioto é a professora do programa de Liderança de Impacto desenvolvido pela Fundação Dom Cabral (à qual a Pekatê Brasil é associada), que vem para ajudar líderes e futuros líderes a criar conexão e ação capazes de gerar resultados sustentáveis.
Segundo Izabela, o programa de curta duração traz autoconhecimento. São utilizadas duas metodologias: a de tendência comportamental (metodologia DISC) associada ao inventário de motivadores. “Um dos pontos mais importantes é deixar de apontar o dedo para o mundo de fora, achando que a responsabilidade do que acontece está nas mãos das circunstâncias ou das outras pessoas, e compreender mais sobre como temos espaço de governabilidade e o quanto podemos atuar nesse espaço.”
Todo o programa é construído para desenvolver as habilidades de inteligência emocional. Além disso, também são trabalhados pontos da Teoria U (desenvolvida pelo especialista em inovação Otto Scharmer), casos práticos, técnicas de feedback e coaching para performance. Sempre com a perspectiva de que o líder pode tomar boas decisões e encontrar o máximo de equilíbrio possível entre o que é bom para si, para os outros e para o contexto.
É um programa para todo líder que desejar melhorar a qualidade das suas conexões interpessoais e da sustentabilidade dos resultados de sua liderança. Ele acontece de maneira presencial em Campinas (SP), nos dias 24, 25 e 26 de agosto, e possui vagas limitadas. Inscreva-se agora mesmo!